Globo | Como descobrir se eu sou tóxica no relacionamento? Veja 9 sinais

Especialistas te ajudam a identificar o problema e sugerem caminhos para deixar de ser uma pessoa tóxica

Como descobrir se eu sou tóxica no relacionamento? — Foto: Pexels/Reprodução

Você já parou para pensar se possui atitudes tóxicas nas suas relações? Costumamos buscar no outro as características que se encaixam nesse perfil, mas e quando o agente do problema ao manipular, mentir, criticar, desconfiar de tudo, demonstrar excesso de ciúmes é você?

Convidamos duas especialistas para ajudar a identificar esses traços e orientar sobre os caminhos possíveis para sair dessa situação (é possível!). Essa é uma boa chance para uma autorreflexão:

“Muitas vezes é difícil para as pessoas admitirem que estão sendo tóxicas em um relacionamento, pois isso implica em assumir a responsabilidade pelas próprias ações e mudar comportamentos que podem estar enraizados há muito tempo”, explica a Dra. Liliana Seger, Doutora em Psicologia pelo IPUSP e coordenadora do grupo de Transtorno Explosivo Intermitente do IPq- FMUSP.

Você já parou para pensar se possui atitudes tóxicas nas suas relações? — Foto: Pexels/Reprodução

E existe um ponto da personalidade que dificulta essa percepção, explica a Dra. Aline Sabino, médica psiquiatra do Hospital São Camilo. “A pessoa tóxica tem muita dificuldade de receber crítica ou de fazer a autoavaliação. Ela costuma ser dotada de uma vaidade e de um egocentrismo além do normal”, aponta.

A psicoterapia costuma ser o tratamento mais indicado, afirma a psiquiatra: “Mas essas pessoas não procuram porque não conseguem reconhecer essa necessidade.”

Como saber se sou tóxico em um relacionamento?

Para ajudar a identificar esses sinais, pedimos para as especialistas listarem algumas características que possam servir como ponto de alerta. “Se você perceber que está controlando o outro, exercendo poder sobre ele, intimidando, manipulando, humilhando ou impedindo de fazer as coisas que o outro deseja, pode estar sendo agente de um relacionamento abusivo”, destaca a Dra. Liliana Seger.

Outros traços comuns são identificados pela Dra. Aline Sabino: “A inveja, uma postura extremamente crítica, é geralmente utilizada para disfarçar uma autoestima baixa ou insegurança. O negativismo também é um traço importante."

"Quando você vai dar uma opinião por uma ótica pessimista, isso tende a contaminar, desanimar, gerar medo ou insegurança no parceiro.”

Muitas vezes é difícil para as pessoas admitirem que estão sendo tóxicas em um relacionamento, pois isso implica em assumir a responsabilidade pelas próprias ações — Foto: Pexels/Reprodução

Segundo a Dra. Liliana Seger, as ações podem ser inconscientes. “Por isso deve-se buscar ajuda e trabalhar no autoconhecimento para mudar esse comportamento. Muitas vezes parecem sutis e nem sempre essa pessoa tem clareza de suas ações”, explica.

O que leva uma pessoa a se tornar tóxica em uma relação?

As razões para o desenvolvimento desse tipo de comportamentos podem ser diversas e complexas, afirma a Dra. Liliana Seger. “Porém, alguns fatores normalmente incluem o meio ambiente em que a pessoa viveu, isto é, experiências de vida, como a exposição a modelo de comportamento tóxicos, a falta de habilidades sociais e emocionais, traumas e experiências negativas na infância.”

A Dra. Aline Sabino acrescenta alguns exemplos. “Normalmente ocorre por conta de uma criação na qual essa pessoa não teve muito afeto ou, o inverso disso, na qual foi sufocada de afeto e de muito ‘sim’. Então ela cresce com muita dificuldade de tolerar limites e contrariedades.”

Outro exemplo na infância, que pode ser identificado como um trauma, é o bullying excessivo na escola. Na vida adulta, essas pessoas podem desenvolver personalidades “extremamente inseguras, críticas, invejosas e ser extremamente teatrais, exagerando tudo o que acontece, colocando uma tonalidade dramática excessiva”, aponta a médica.

Quando você vai dar uma opinião por uma ótica pessimista, isso tende a contaminar, desanimar, gerar medo ou insegurança no parceiro.” Muitas vezes é difícil para as pessoas admitirem que estão sendo tóxicas em um relacionamento, pois isso implica em assumir a responsabilidade pelas próprias ações — Foto: Pexels/Reprodução

Pega na mentira!

Segundo a Dra. Aline Sabino, a necessidade de mentir começa a ser desenvolvida ainda na infância. “Quando eu pergunto para o meu filho se ele fez tal coisa, ele admite que sim e eu o puno por isso, eu já crio no cérebro da criança o mecanismo de que falar a verdade não é bom, porque vai gerar punição e prejuízo”, explica ela para justificar o que leva a mentira ser tão presente na personalidade de pessoas tóxicas:

“Eu vou mentir para não enfrentar a realidade e não assumir parte da minha responsabilidade naquilo.”

Invejosa, crítica, manipuladora, mentirosa, autoritária, negativa, eu? É realmente desafiador para qualquer ser humano assumir que possui uma ou mais dessas características. Porém, a psiquiatra alerta: “Todo mundo passeia por essas características, umas mais e outras menos, e as circunstâncias da vida também podem favorecer essa manifestação mais exagerada.”

Isso reforça que em alguns momentos você pode deixar escapar alguma postura mais tóxica. “A característica está comigo para onde eu for, mas para onde eu vou lançar mais mão dela ou não? Geralmente em situações em que eu me sinto ameaçada, onde estou competindo, onde eu preciso assumir responsabilidades ou assumir culpas. É muito mais diante da situação que eu estou vivendo do que da relação estabelecida”, explica.

Invejosa, crítica, manipuladora, mentirosa, autoritária, negativa, eu? É realmente desafiador para qualquer ser humano assumir que possui uma ou mais dessas características. — Foto: Pexels/Reprodução

9 sinais de que eu estou tendo atitudes tóxicas no relacionamento:

  • Críticas constantes ao parceiro,

  • Comportamentos manipuladores,

  • Dificuldade em se comunicar,

  • Ciúmes excessivos (ciúme patológico),

  • Possessividade,

  • Controle excessivo,

  • Falta de confiança no outro,

  • Desrespeito pelas necessidades e limites do parceiro,

  • Mentiras recorrentes.

Como saber se o relacionamento é tóxico

Antes de mais nada, a Dra. Liliana Seger traça a diferença do relacionamento tóxico para o tipo de relação abusiva: "Um relacionamento abusivo é caracterizado por comportamentos intencionais que visam controlar, manipular e ferir a outra pessoa".

"Envolve uma dinâmica de poder desigual em que uma pessoa exerce controle e poder sobre a outra através de comportamentos abusivos envolvendo violência física, psicológica ou sexual”, explica.

Já no relacionamento tóxico, ambos os parceiros se envolvem em comportamentos prejudiciais à relação. “Como ciúmes excessivos, falta de comunicação, desrespeito e pode não ser intencional”, explica. Muitas vezes as pessoas que estão dentro da relação são incompatíveis e com problemas de comunicação que acabam gerando conflitos:

“Trazem muitos problemas ao relacionamento e à saúde mental e emocional de ambos os parceiros, mas não necessariamente envolvem violência.”

Já no relacionamento tóxico, ambos os parceiros se envolvem em comportamentos prejudiciais à relação — Foto: Pexels/Reprodução

Para a Dra. Aline Sabino, nesse tipo de relação, é como se um “complementasse” o outro. “Um busca no outro o que lhe falta, um fica na sombra do outro. A pessoa que tem um perfil mais invejoso e autoritário acaba se envolvendo com uma pessoa mais frágil emocionalmente, que vivenciou alguma relação na qual se sentiu diminuída. É como se um alimentasse essa fragilidade no outro”, analisa.

Segundo a psiquiatra, o autoritário dificilmente vai se relacionar com um outro autoritário, mas vai buscar alguém que seja mais passivo: “Por exemplo, numa relação em que uma pessoa é cheia de amigos e a outra é mais introvertida. Ela começa a achar que se deixar o parceiro, não vai ter mais amigos, não vai socializar, e por isso precisa estar com ela.”

Dicas para se livrar de um comportamento tóxico:

É possível superar esse comportamento, mas em primeiro lugar é importante reconhecer esses sinais e não minimizá-los ou ignorá-los, alerta a Dra. Liliana Seger. “Você pode estabelecer limites claros com a pessoa, comunicando o que você está disposto a aceitar e o que não está.”

Ela aconselha buscar apoio de outras pessoas em sua vida, “para não enfrentar a situação só”. A Dra. Aline Sabino aconselha o afastamento da pessoa que está dentro de uma relação tóxica como vítima: “Infelizmente, em muitos casos, a gente precisa trabalhar o rompimento. Indicamos a psicoterapia para fortalecer a autoestima dessa pessoa ou o ego dela suficientemente para entender que não é uma relação saudável para ela.”

Segundo a psiquiatra, o autoritário dificilmente vai se relacionar com um outro autoritário, mas vai buscar alguém que seja mais passivo — Foto: Pexels/Reprodução

Se a situação está além de suas capacidades, a psicóloga orienta a procura de um profissional para ajudar na identificação e mudança de comportamentos tóxicos: “Embora um especialista seja fundamental, há a possibilidade de uma pessoa, por vontade própria, reverter essa postura. A mudança é um processo que leva tempo e esforço, mas é possível com autorreflexão, autodisciplina e disposição para mudar.”

Para quem se identifica com alguns sinais, mas não consegue perceber se está sendo tóxica na relação, a Dra. Alina Sabino sugere alguns caminhos nesse processo de autoconhecimento.

“O mais importante mesmo seria buscar a ajuda de um profissional”, reforça.

  • Internet: “É uma ferramenta poderosíssima que pode servir tanto para o bem quanto para o mal. O acesso à informação hoje é muito mais fácil.”

  • Livros: “Leituras que descrevem essas características e dão outros exemplos, falando de personalidades. Conforme a pessoa vai lendo, ela vai se identificando: ‘Ah se Steve Jobs tinha atitudes tóxicas, por que eu não vou ter?’ Pode te ajudar a reconhecer e a admitir.”

  • Grupos de ajuda: “A psicoterapia em grupo é algo que te favorece. Você não precisa falar, só quando se sentir confortável. Mas ouvir as histórias dos demais e ver como as relações se deturpam e como podem prejudicar a vida dos outros facilita no reconhecimento.”

  • Palestras: “Assistir às palestras de orientação nas escolas e nas empresas é importante, já que é tão difícil para esse perfil procurar um profissional. Leve o profissional até ele! Você põe a pessoa para refletir. A palestra não faz efeito enquanto está acontecendo, mas quando acaba.

Fonte: Globo

Anterior
Anterior

Folha de SP | Discord vira terra sem lei com grupos que encorajam crimes sexuais e violência

Próximo
Próximo

Folha de SP | Especialistas indicam como identificar transtornos psiquiátricos em jovens e o que fazer